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POEMA: Ladainha II e análise

Ladainha II
Por que o raciocínio,
os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico, o músculo
mecânico
mais fáceis que um sorriso.

Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial,
dando-lhe um ritmo extra-corporal?

Por que levantar o braço
para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.
Ó máquina, orai por nós.

 Cassiano Ricardo Leite 

Análise:
            Nesse poema, Cassiano Ricardo faz uma crítica aos avanços tecnológicos, que passou a dominar todas as áreas no mundo pós Segunda Guerra Mundial.
            No verso 1,  questionar sobre o porquê do “raciocínio”, dos “músculos” e dos “ossos”, o poeta mostra toda a sua indignação ao processo de automação que estaria deixando as pessoas ociosas, pois as máquinas se encarregariam de realizar as tarefas pesadas sem a necessidade de alguém que pensasse, que tivesse bom raciocínio e que fosse forte o suficiente para desempenhar as funções hoje desenvolvidas pelo “cérebro eletrônico” -  as máquinas. De acordo com esse verso, produzir na era das máquinas era mais fácil que um “sorriso”.
            No verso 2, o poeta questiona o porquê da existência do coração; e se “o de metal não tornaria o homem mais cordial, dando-lhe um ritmo extra-corporal?”De forma irônica, dá-nos a entender que as pessoas não estão mais afeitas à cordialidade, e que a tecnologia não está  tornando o homem uma pessoa melhor para a vida em sociedade.

            No verso 3, o autor elenca uma série de atividades que naquela ocasião, devido à introdução de máquinas na agricultura, levou o homem do campo a perder  parcialmente sua função. Essas tarefas corriqueiras estavam relacionadas às simples atividades do agricultor, como “levantar o braço para colher o fruto”. Manifesta certa tristeza ao perguntar: “Por que labutar no campo, na cidade? Novamente ressalta que todas as ações humanas estão sendo dominadas e substituídas pelas máquinas, quando diz: “A máquina o fará por nós.” E finaliza seu poema dando à máquina um status de alguém que esteja próximo a uma divindade, e que poderá substituir o homem, inclusive na hora da oração: “Ó máquina, orai por nós.”

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