Poeta, dramaturgo, tradutor e crítico de artes plásticas, Ferreira Gullar, pseudônimo de
José de Ribamar Ferreira, membro da Academia Brasileira de Letras desde 2014, indicado ao
Prêmio Nobel de Literatura em 2002, ganhador do Prêmio Machado de Assis da Academia
Brasileira de Letras em 2005, agraciado em 2010 com o Prêmio Luís de Camões, o mais
importante prêmio literário da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Ferreira Gullar
faleceu aos 86 anos em 4 de dezembro de 2016. Seu último livro, lançado em 2016, foi
“Autobiografia Poética e Outros Textos”.
Seu primeiro livro, Um pouco acima do chão (1949), marcado por suas leituras de
poemas clássicos e parnasianos durante a adolescência, levou o poeta Gullar a excluí-lo de
sua bibliografia posteriormente. Em 1950 vence com o poema "O galo" um concurso
promovido pelo Jornal de Letras, tendo o poeta Manuel Bandeira como um dos membros do
Júri. Conheceu em 1951 o crítico de arte Mário Pedrosa e o escritor Oswald de Andrade, que
tiveram grande influência em sua linguagem literária. Descobriu a poesia moderna aos
dezenove anos, sob a influência dos poetas modernistas Carlos Drummond de Andrade,
Murilo Mendes e Manuel Bandeira. Escandalizado com esse tipo de poesia, procurou ler
ensaios sobre ela, aderindo a ela, mas adotando uma atitude totalmente oposta à que tinha
anteriormente.
Tornando-se um poeta experimental radical que tinha como lema uma frase do pintor
Paul Gauguin: “Quando eu aprender a pintar com a mão direita, passarei a pintar com a
esquerda, e quando aprender a pintar com a esquerda, passarei a pintar com os pés”. A obra
do poeta Gullar é marcada pelo experimentalismo e o lirismo, pela literatura de cordel e pela
linguagem coloquial, por textos intimistas e de forte musicalidade. Para o poeta Ferreira
Gullar, a linguagem teria que ser reinventada a cada poema escrito.
Essa postura do poeta Gullar gerou o livro que o lançaria no cenário literário do país
em 1954: A Luta Corporal, dando início ao movimento da “poesia concreta” na literatura
brasileira, tendo o poeta como um dos participantes, considerando-se também o fato de que o
projeto visual ousado do livro de Gullar despertou grande interesse dos poetas concretistas
Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari.
Posteriormente, rompe com o concretismo após ler um artigo de Haroldo de Campos
no Jornal do Brasil, intitulado Da Psicologia da Composição à Matemática da Composição;
em resposta, escreve o artigo Poesia Concreta: Experiência Fenomenológica, publicado
também no Jornal do Brasil, em 1957. Ferreira Gullar discordava do que considerava um
racionalismo excessivo da poesia concreta e defendia mais subjetividade, tendo como
consequência a criação do movimento neoconcreto, com a participação de artistas plásticos e
poetas do Rio de Janeiro, entre eles Lygia Clark e Hélio Oiticica, a partir de 1959, após o
poeta Gullar redigir o Manifesto neoconcreto, assinado pelos integrantes do movimento, e
logo em seguida a criação da Teoria do não-objeto, ambos os textos fazendo parte até hoje da
história da arte brasileira, em virtude de seu caráter original e revolucionário.
Ferreira Gullar criou o livro-poema; posteriormente, criou ainda o poema espacial e
também o poema enterrado. Este último consistia em uma sala no subsolo com acesso por
uma escada; após penetrar no poema, deparamo-nos com um cubo vermelho; levantando o
cubo, encontramos outro, verde, e sob este um outro, branco, tendo escrito numa das faces a
palavra “rejuvenesça”.
Após criar o poema enterrado, última obra neoconcreta do poeta, Ferreira Gullar
engajou-se na política, ingressando na luta socialista revolucionária, como membro do partido
comunista e escrevendo poemas no ativismo socialista e na luta contra a ditadura militar.
No início da década de 1960, escreve poemas de cordel, como João Boa Morte, Cabra
Marcado pra Morrer, em que predomina uma linguagem referencial, de conteúdo político,
temas sociais e dialogando com a cultura popular, um gênero em que o poeta cria várias obras
entre 1962 e 1967, como Quem Matou Aparecida, Peleja de Zé Molesta com Tio Sam, e
História de um Valente.
Na direção da Fundação Cultural de Brasília em 1961, no governo de Jânio Quadros,
construiu o Museu de Arte Popular. A partir de 1962, passa a fazer parte do Centro Popular de
Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), sendo eleito presidente do CPC em
1963. Em 1968, o poeta é preso, juntamente com o jornalista Paulo Francis e os músicos
Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1969, lança o ensaio Vanguarda e subdesenvolvimento.
Foi processado e preso, depois passou à clandestinidade e ao exílio em Moscou, Santiago do
Chile, Lima e Buenos Aires, respectivamente, voltando ao Brasil em 1977, quando foi preso e
torturado, e libertado após pressão internacional voltou a trabalhar na imprensa e como
roteirista de Televisão.
Em 1975, Ferreira Gullar lança Dentro da Noite Veloz, reunião de poemas que ele
vinha escrevendo desde 1962, refletindo o momento histórico da época, a Guerra Fria entre
Estados Unidos e União Soviética, com poemas dedicados a temas como a Guerra do Vietnã e
a morte de Che Guevara, tratando da realidade social brasileira, das paisagens do Rio de
Janeiro, da experiência vivida no exílio e ainda do sentimento amoroso. No mesmo ano de
1975, o poeta Ferreira Gullar escreve durante seu exílio em Buenos Aires aquele que se
tornaria seu livro mais famoso, Poema sujo, um longo poema com mais de cem páginas,
considerado sua obra-prima. O poema chega ao Brasil trazido por Vinicius de Moraes, e era
ouvido em sessões fechadas. No ano seguinte, Ênio Silveira consegue publicar Poema sujo
pela editora Civilização Brasileira. Sem a presença do poeta, o lançamento no Rio de Janeiro
se torna um ato pela volta de Ferreira Gullar, reunindo artistas e intelectuais. Poema Sujo é
uma obra original, mesclando a imagem carnal com o desejo de cantar o corpo da cidade de
São Luís do Maranhão, em um realismo cômico e exagerado, visão da temida e angustiante
finitude das pessoas e das coisas.
Gullar publica em 1980 as obras poéticas Na vertigem do dia e Toda Poesia, livro este
que reunia toda sua produção poética até aquele momento. Na obra Na Vertigem do Dia, o
poeta retoma o intimismo da fase inicial de sua poesia, mergulhado em suas próprias
incertezas e inquietações. Publica ainda O Vil Metal reunindo poemas escritos entre 1954 e
1960, Barulhos em 1987 e Muitas Vozes em 1999, livro esse que foi vencedor do Prêmio
Jabuti de poesia. Em 1992 assumiu a direção da Funarte, rebatizada assim por ele em
substituição ao Instituto Brasileiro de Arte e Cultura.
Como crítico de artes plásticas, Ferreira Gullar publicou vários livros, entre eles Sobre
Arte (1983), Etapas da arte contemporânea (1985), Argumentação contra a morte da
arte (1993) e Etapas da Arte Contemporânea: Do Cubismo à Arte Neoconcreta (1998). A
obra de memórias Rabo de foguete: os anos de exílio foi publicada em 1998, ano em que o
poeta foi homenageado no 29º Festival Internacional de Poesia de Rotterdã, na Holanda. Em
1999, foi agraciado com o Prêmio Jabuti na categoria poesia e também recebeu o Prêmio
Alphonsus de Guimarães, da Biblioteca Nacional.
Ferreira Gullar também teve forte atuação no teatro, fundando com jovens
dramaturgos e atores, logo após o golpe militar, o Teatro Opinião, um espaço de enorme
importância na resistência ao regime militar. Gullar escreveu a peça Dr. Getúlio, Sua Vida e
Sua Glória (1968), com Dias Gomes, e as peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come
(1966) com Oduvaldo Vianna Filho e A saída? Onde fica a saída? (1967) com Armando
Costa e Antonio Carlos Fontoura. Durante o exílio, escreveu ainda a peça Um rubi no umbigo.
José de Ribamar Ferreira, membro da Academia Brasileira de Letras desde 2014, indicado ao
Prêmio Nobel de Literatura em 2002, ganhador do Prêmio Machado de Assis da Academia
Brasileira de Letras em 2005, agraciado em 2010 com o Prêmio Luís de Camões, o mais
importante prêmio literário da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Ferreira Gullar
faleceu aos 86 anos em 4 de dezembro de 2016. Seu último livro, lançado em 2016, foi
“Autobiografia Poética e Outros Textos”.
Seu primeiro livro, Um pouco acima do chão (1949), marcado por suas leituras de
poemas clássicos e parnasianos durante a adolescência, levou o poeta Gullar a excluí-lo de
sua bibliografia posteriormente. Em 1950 vence com o poema "O galo" um concurso
promovido pelo Jornal de Letras, tendo o poeta Manuel Bandeira como um dos membros do
Júri. Conheceu em 1951 o crítico de arte Mário Pedrosa e o escritor Oswald de Andrade, que
tiveram grande influência em sua linguagem literária. Descobriu a poesia moderna aos
dezenove anos, sob a influência dos poetas modernistas Carlos Drummond de Andrade,
Murilo Mendes e Manuel Bandeira. Escandalizado com esse tipo de poesia, procurou ler
ensaios sobre ela, aderindo a ela, mas adotando uma atitude totalmente oposta à que tinha
anteriormente.
Tornando-se um poeta experimental radical que tinha como lema uma frase do pintor
Paul Gauguin: “Quando eu aprender a pintar com a mão direita, passarei a pintar com a
esquerda, e quando aprender a pintar com a esquerda, passarei a pintar com os pés”. A obra
do poeta Gullar é marcada pelo experimentalismo e o lirismo, pela literatura de cordel e pela
linguagem coloquial, por textos intimistas e de forte musicalidade. Para o poeta Ferreira
Gullar, a linguagem teria que ser reinventada a cada poema escrito.
Essa postura do poeta Gullar gerou o livro que o lançaria no cenário literário do país
em 1954: A Luta Corporal, dando início ao movimento da “poesia concreta” na literatura
brasileira, tendo o poeta como um dos participantes, considerando-se também o fato de que o
projeto visual ousado do livro de Gullar despertou grande interesse dos poetas concretistas
Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari.
Posteriormente, rompe com o concretismo após ler um artigo de Haroldo de Campos
no Jornal do Brasil, intitulado Da Psicologia da Composição à Matemática da Composição;
em resposta, escreve o artigo Poesia Concreta: Experiência Fenomenológica, publicado
também no Jornal do Brasil, em 1957. Ferreira Gullar discordava do que considerava um
racionalismo excessivo da poesia concreta e defendia mais subjetividade, tendo como
consequência a criação do movimento neoconcreto, com a participação de artistas plásticos e
poetas do Rio de Janeiro, entre eles Lygia Clark e Hélio Oiticica, a partir de 1959, após o
poeta Gullar redigir o Manifesto neoconcreto, assinado pelos integrantes do movimento, e
logo em seguida a criação da Teoria do não-objeto, ambos os textos fazendo parte até hoje da
história da arte brasileira, em virtude de seu caráter original e revolucionário.
Ferreira Gullar criou o livro-poema; posteriormente, criou ainda o poema espacial e
também o poema enterrado. Este último consistia em uma sala no subsolo com acesso por
uma escada; após penetrar no poema, deparamo-nos com um cubo vermelho; levantando o
cubo, encontramos outro, verde, e sob este um outro, branco, tendo escrito numa das faces a
palavra “rejuvenesça”.
Após criar o poema enterrado, última obra neoconcreta do poeta, Ferreira Gullar
engajou-se na política, ingressando na luta socialista revolucionária, como membro do partido
comunista e escrevendo poemas no ativismo socialista e na luta contra a ditadura militar.
No início da década de 1960, escreve poemas de cordel, como João Boa Morte, Cabra
Marcado pra Morrer, em que predomina uma linguagem referencial, de conteúdo político,
temas sociais e dialogando com a cultura popular, um gênero em que o poeta cria várias obras
entre 1962 e 1967, como Quem Matou Aparecida, Peleja de Zé Molesta com Tio Sam, e
História de um Valente.
Na direção da Fundação Cultural de Brasília em 1961, no governo de Jânio Quadros,
construiu o Museu de Arte Popular. A partir de 1962, passa a fazer parte do Centro Popular de
Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), sendo eleito presidente do CPC em
1963. Em 1968, o poeta é preso, juntamente com o jornalista Paulo Francis e os músicos
Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1969, lança o ensaio Vanguarda e subdesenvolvimento.
Foi processado e preso, depois passou à clandestinidade e ao exílio em Moscou, Santiago do
Chile, Lima e Buenos Aires, respectivamente, voltando ao Brasil em 1977, quando foi preso e
torturado, e libertado após pressão internacional voltou a trabalhar na imprensa e como
roteirista de Televisão.
Em 1975, Ferreira Gullar lança Dentro da Noite Veloz, reunião de poemas que ele
vinha escrevendo desde 1962, refletindo o momento histórico da época, a Guerra Fria entre
Estados Unidos e União Soviética, com poemas dedicados a temas como a Guerra do Vietnã e
a morte de Che Guevara, tratando da realidade social brasileira, das paisagens do Rio de
Janeiro, da experiência vivida no exílio e ainda do sentimento amoroso. No mesmo ano de
1975, o poeta Ferreira Gullar escreve durante seu exílio em Buenos Aires aquele que se
tornaria seu livro mais famoso, Poema sujo, um longo poema com mais de cem páginas,
considerado sua obra-prima. O poema chega ao Brasil trazido por Vinicius de Moraes, e era
ouvido em sessões fechadas. No ano seguinte, Ênio Silveira consegue publicar Poema sujo
pela editora Civilização Brasileira. Sem a presença do poeta, o lançamento no Rio de Janeiro
se torna um ato pela volta de Ferreira Gullar, reunindo artistas e intelectuais. Poema Sujo é
uma obra original, mesclando a imagem carnal com o desejo de cantar o corpo da cidade de
São Luís do Maranhão, em um realismo cômico e exagerado, visão da temida e angustiante
finitude das pessoas e das coisas.
Gullar publica em 1980 as obras poéticas Na vertigem do dia e Toda Poesia, livro este
que reunia toda sua produção poética até aquele momento. Na obra Na Vertigem do Dia, o
poeta retoma o intimismo da fase inicial de sua poesia, mergulhado em suas próprias
incertezas e inquietações. Publica ainda O Vil Metal reunindo poemas escritos entre 1954 e
1960, Barulhos em 1987 e Muitas Vozes em 1999, livro esse que foi vencedor do Prêmio
Jabuti de poesia. Em 1992 assumiu a direção da Funarte, rebatizada assim por ele em
substituição ao Instituto Brasileiro de Arte e Cultura.
Como crítico de artes plásticas, Ferreira Gullar publicou vários livros, entre eles Sobre
Arte (1983), Etapas da arte contemporânea (1985), Argumentação contra a morte da
arte (1993) e Etapas da Arte Contemporânea: Do Cubismo à Arte Neoconcreta (1998). A
obra de memórias Rabo de foguete: os anos de exílio foi publicada em 1998, ano em que o
poeta foi homenageado no 29º Festival Internacional de Poesia de Rotterdã, na Holanda. Em
1999, foi agraciado com o Prêmio Jabuti na categoria poesia e também recebeu o Prêmio
Alphonsus de Guimarães, da Biblioteca Nacional.
Ferreira Gullar também teve forte atuação no teatro, fundando com jovens
dramaturgos e atores, logo após o golpe militar, o Teatro Opinião, um espaço de enorme
importância na resistência ao regime militar. Gullar escreveu a peça Dr. Getúlio, Sua Vida e
Sua Glória (1968), com Dias Gomes, e as peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come
(1966) com Oduvaldo Vianna Filho e A saída? Onde fica a saída? (1967) com Armando
Costa e Antonio Carlos Fontoura. Durante o exílio, escreveu ainda a peça Um rubi no umbigo.
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