Pular para o conteúdo principal

POEMA: Hieróglifo para Mário Shemberg e análise

HIERÓGLIFO PARA MÁRIO SHEMBERG (CRISANTEMPO: NO ESPAÇO
CURVO NASCE UM...; A EDUCAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS)

o olhar transfinito do mário
nos ensina
a ponderar melhor a indecifrada
equação cósmica

cinzazul
semicerrando verdes
esse olhar
nos incita a tomar o sereno
pulso das coisas
a auscultar
o ritmo micro -
macrológico da matéria
a aceitar
o spavento della materia (ungaretti)
onde kant viu a cintilante lei das estrelas
projetar-se no céu interno da ética

na estante de mário
física e poesia coexistem
como asas de um pássaro -
espaço curvo -
colhidas pela têmpera absoluta de volpi

seu marxismo zen
é dialético
e dialógico

e deixa ver que a sabedoria
pode ser tocável como uma planta
que cresce das raízes e deita folhas
e viça
e logo se resolve numa flor de lôtus
de onde
- só visível quando damos conta -
um bodisatva nos dirige seu olhar transfinito

Haroldo de Campos

ANÁLISE

“Hieróglifo”, uma coisa escrita de forma enigmática, simbólica, misteriosa, imagem
representativa de uma palavra... “Hieróglifo para Mário Schenberg” é o último poema do livro
“A educação dos cinco sentidos”, onde o poeta Haroldo de Campos reconhece que existem
coisas que não são completamente perceptíveis, visíveis em sua integralidade, daí a referência
ao olhar “transfinito” de Mário Schenberg, um físico e cientista incomparável.
Um poema com citações ao poeta italiano Giuseppe “Ungaretti”, ao pintor Alfredo
“Volpi”, o filósofo iluminista Inmanuel “Kant”, afirmando que “física e poesia coexistem
como asas de um pássaro”, assim como a ciência, a poesia e as artes devem caminhar juntas,
integradas em linguagens próximas.
Um poema escrito por Haroldo de Campos em homenagem ao grande físico e cientista
brasileiro, crítico de arte, pacifista, político, escritor voltado para a poesia do concretismo e do
neoconcretismo, organizador da retrospectiva de Volpi na Bienal Internacional de São Paulo
em 1961, um intelectual de exuberante e extraordinária erudição.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POEMA: Mar azul e Análise

MAR AZUL mar azul mar azul      marco azul mar azul      marco azul      barco azul mar azul      marco azul      barco azul      arco azul mar azul      marco azul      barco azul      arco azul      ar azul Ferreira Gullar ANÁLISE Linearidade, ondulação e sonoridade. Um poema menos tenso, menos subjetivo, projetado na linguagem lírica do mar, como um produto do universo. O poema “Mar Azul” modifica a ideia do concretismo excessivamente formal e subjetivo das palavras em seu aspecto semântico, através de um poema visual que procurava a objetividade da palavra em seu significado real, natural, lírico, romântico e melodioso. Lirismo e melodia que transmitem a vida, o passado e as lembranças do autor em sua cidade natal, São Luis do Maranhão.

POEMA: Ladainha II e análise

Ladainha II Por que o raciocínio, os músculos, os ossos? A automação, ócio dourado. O cérebro eletrônico, o músculo mecânico mais fáceis que um sorriso. Por que o coração? O de metal não tornará o homem mais cordial, dando-lhe um ritmo extra-corporal? Por que levantar o braço para colher o fruto? A máquina o fará por nós. Por que labutar no campo, na cidade? A máquina o fará por nós. Por que pensar, imaginar? A máquina o fará por nós. Por que fazer um poema? A máquina o fará por nós. Por que subir a escada de Jacó? A máquina o fará por nós. Ó máquina, orai por nós.  Cassiano Ricardo Leite  Análise:             Nesse poema, Cassiano Ricardo faz uma crítica aos avanços tecnológicos, que passou a dominar todas as áreas no mundo pós Segunda Guerra Mundial.             No verso 1,  questionar sobre o porquê d...

POEMA: Circuladô de fulô e análise

CIRCULADÔ DE FULÔ (GALÁXIAS) circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá soando como um shamisen e feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para outros não existia aquela música não podia porque não podia popular aquela música se não canta não é popular se não afina não tintina não tarantina e no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria física e doendo doendo como um prego na palma da mão um ferrugem prego cego na palma espalma da mão coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro prego cego durando na palma polpa da mão ao sol … [circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá] … o povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro da maravilha no visgo do impr...