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Mostrando postagens de novembro, 2017

POEMA: Guitarra e análise

GUITARRA P UNHAL de prata já eras, punhal de prata! Nem foste tu que fizeste a minha mão insensata. Vi-te brilhar entre as pedras, punhal de prata! — No cabo, flores abertas, no gume, a medida exata, a exata, a medida certa, punhal de prata, para atravessar-me o peito com uma letra e uma data. A maior pena que eu tenho, punhal de prata, não é de me ver morrendo, mas de saber quem me mata. Cecilia Meireles Análise:  Neste poema ela descreve o passo a passo até o momento do suicídio. O punhal já era punhal; ela já estava pré-disposta a cometer o ato, portanto o punhal por ser punhal não a influenciara; a lamina possuía a medida certa para lhe atravessar o peito, e no fim a reflexão que o que lhe fazia sofrer mais não era o fato de estar morrendo e sim o fato de saber que fora ela mesma que acabara com a própria vida. 

POEMA: Epigrama N.o 4 e análise

EPIGRAMA N.o 4 O CHORO vem perto dos olhos para que a dor transborde e caia. O choro vem quase chorando como a onda que toca na praia. Descem dos céus ordens augustas e o mar chama a onda para o centro. O choro foge sem vestígios, mas levando náufragos dentro. Cecilia Meireles Análise: O papel do choro/ lágrima que limpa e acalma a alma. Ela vem devido alguma tempestade interna, algo que nos aflige, transborda nos olhos e leva embora nossa angústia. 

POEMA: Criança e análise

CRIANÇA C ABECINHA boa de menino triste, de menino triste que sofre sozinho, que sozinho sofre, — e resiste. Cabecinha boa de menino ausente, que de sofrer tanto se fez pensativo, e não sabe mais o que sente... Cabecinha boa de menino mudo que não teve nada, que não pediu nada, pelo medo de perder tudo. Cabecinha boa de menino santo que do alto se inclina sobre a água do mundo para mirar seu desencanto. Para ver passar numa onda lenta e fria a estrela perdida da felicidade que soube que não possuiria. Cecilia Meireles Análise:  Neste poema ela ressalta em vários momentos a personalidade do menino e todas as dificuldades que ele passa, e devido a todas estas dificuldades ele se torna reflexivo, começa a pensar sobre sua própria vida e conclui que jamais irá possuir felicidade.

POEMA: Epigrama N.o 3 e análise

EPIGRAMA N.o 3 M UTILADOS jardins e primaveras abolidas abriram seus miraculosos ramos no cristal em que pousa a minha mão. (Prodigioso perfume!) Recompuseram-se tempos, formas, cores, vidas... Ah! mundo vegetal, nós, humanos, choramos só da incerteza da ressurreição . Cecilia Meireles Análise: Neste poema ela compara a efemeridade das vegetações durante a transitividade das estações e em paralelo compara aos humanos e o nosso medo perante tais circunstâncias. 

POEMA: Outro epigrama e análise

Outro epigrama Se perdi a inocência para ganhar o pão de cada dia, com o suor do próprio rosto lamento apenas tenha sido tão escassa a inocência de que eu era servido. Para que tão facilmente eu a houvesse perdido E o pão de cada dia, em conseqüência, Me seja, agora, uma simples migalha. Por que não foi maior minha inocência? Cassiano Ricardo Leite  Análise:              Quando o Poeta nesses versos afirma: “Se perdi a inocência para ganhar o pão de cada dia”, retrata possivelmente, que a perda de sua inocência estaria vinculada à necessidade de sobrevivência, uma vez que tinha que trabalhar para ganhar o pão “com o suor do próprio rosto”.             A perda dessa inocência poderia estar relacionada talvez a alguma dificuldade, ato considerado impuro ou mesmo pecaminoso aos olhos da sociedade da época, ou a qualquer atividade que o t...

POEMA: Ladainha II e análise

Ladainha II Por que o raciocínio, os músculos, os ossos? A automação, ócio dourado. O cérebro eletrônico, o músculo mecânico mais fáceis que um sorriso. Por que o coração? O de metal não tornará o homem mais cordial, dando-lhe um ritmo extra-corporal? Por que levantar o braço para colher o fruto? A máquina o fará por nós. Por que labutar no campo, na cidade? A máquina o fará por nós. Por que pensar, imaginar? A máquina o fará por nós. Por que fazer um poema? A máquina o fará por nós. Por que subir a escada de Jacó? A máquina o fará por nós. Ó máquina, orai por nós.  Cassiano Ricardo Leite  Análise:             Nesse poema, Cassiano Ricardo faz uma crítica aos avanços tecnológicos, que passou a dominar todas as áreas no mundo pós Segunda Guerra Mundial.             No verso 1,  questionar sobre o porquê d...

POEMA: Reis magos e análise

Reis magos E pra ouvir a sua história vieram três reis encantados: um vermelho, o que lhe trouxe a manhã como presente; outro branco, o que lhe havia feito presente do dia; outro preto, finalmente, rosto cortado de açoite. O que lhe trouxera a Noite... Cassiano Ricardo Leite Análise:             Este poema traz à tona as três raças que formaram o povo brasileiro, a quem Cassiano Ricardo chama de “Reis Magos”.             O vermelho seria o índio nativo. Cujas posses era a natureza e a beleza de um novo dia; a raça branca, que havia feito do índio um peça para doar de presente, para ser negociado. E, finalmente, o negro, “o ouro preto”, pois no início do processo de escravidão, o negro valia muito dinheiro, e era negociado como uma mercadoria qualquer; porém, o controle, a contenção desse negro era feito sob ameaça e de forma violenta; carregava no “rost...

POEMA: Pralapracá e análise

Pralapracá E começa a longa história do navio que ia e vinha pela estrada azul do Atlântico: Ia, levando pau-brasil e homens cor da manhã, filhos do mato, cheios de sol e de inocência; vinha trazendo degredados... Ia, levando uma esperança; vinha trazendo foragidos de outras pátrias para a ilha da Bem-aventurança. Ia levando um grito de surpresa, da terra criança; e vinha abarrotado de saudade portuguesa... Cassiano Ricardo Leite Análise:             No início do poema no verso : “E começa a longa história, do navio que ia e vinha pela estrada azul do Atlântico”, o poeta resgata o fato da Descoberta do Brasil e o trânsito constante de navios portugueses nas águas do Atlântico. Essas viagens eram exploratórias, pois retiravam as riquezas naturais da terra como “Pau Brasil”. Do mesmo modo, levavam para Portugal os índios em cativeiros; os quais o autor chama de “homens cor da manhã, filhos do mato, cheios d...

BIOGRAFIA DE CASSIANO RICARDO LEITE

Cassiano Ricardo (1895-1974) foi um poeta, ensaísta, jornalista e advogado brasileiro. De poesia marcadamente nacionalista, buscou inspiração nos motivos folclóricos e históricos brasileiros. Publicou seu primeiro livro de poemas “Dentro da Noite” (1915).             O poeta sempre soube assimilar a moda poética dominante e escreveu poemas seguindo os mais variados estilos. Em São Paulo, se integrou aos dissidentes do Movimento Modernista e aliou-se ao “Grupo Verde e Amarelo” quando produziu obras de entusiasmo ufanista, como “Borrões de Verde a Amarelo” (1925), “Vamos Caçar Papagaios” (1926), “Martim Cererê” (1928) e “Deixa Estar, Jacaré” (1931). Cassiano Ricardo abandonou a advocacia e entrou para o funcionalismo público quando sucessivamente ocupou diversos cargos. No ano de 1937 foi eleito para a cadeira nº 31 da Academia Brasileira de Letras. A partir de 1940 passou a dirigir o jornal “A Manhã”....