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POEMA: Hieróglifo para Mário Shemberg e análise

HIERÓGLIFO PARA MÁRIO SHEMBERG (CRISANTEMPO: NO ESPAÇO CURVO NASCE UM...; A EDUCAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS) o olhar transfinito do mário nos ensina a ponderar melhor a indecifrada equação cósmica cinzazul semicerrando verdes esse olhar nos incita a tomar o sereno pulso das coisas a auscultar o ritmo micro - macrológico da matéria a aceitar o spavento della materia (ungaretti) onde kant viu a cintilante lei das estrelas projetar-se no céu interno da ética na estante de mário física e poesia coexistem como asas de um pássaro - espaço curvo - colhidas pela têmpera absoluta de volpi seu marxismo zen é dialético e dialógico e deixa ver que a sabedoria pode ser tocável como uma planta que cresce das raízes e deita folhas e viça e logo se resolve numa flor de lôtus de onde - só visível quando damos conta - um bodisatva nos dirige seu olhar transfinito Haroldo de Campos ANÁLISE “Hieróglifo”, uma coisa escrita de forma enigmática, simbólica, misteriosa, ...
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POEMA: Circuladô de fulô e análise

CIRCULADÔ DE FULÔ (GALÁXIAS) circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá soando como um shamisen e feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para outros não existia aquela música não podia porque não podia popular aquela música se não canta não é popular se não afina não tintina não tarantina e no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria física e doendo doendo como um prego na palma da mão um ferrugem prego cego na palma espalma da mão coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro prego cego durando na palma polpa da mão ao sol … [circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá] … o povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro da maravilha no visgo do impr...

POEMA: Sasamegoto (galáxias) e análise

SASAMEGOTO (GALÁXIAS) sasamegoto a fala daquela dona coisa de fala mascada ou molhada marulho ou murmulho cicio ou sussúrrio balbúcie ou borbulha ou mussitar ou musselina e sasamegoto sachet mascado na língua whispering aquela dona companheira de carruagem diria buson ou bashô buson enquanto a primavera haru same ya chove palavras maceradas como goma de mascar resina e açúcar nas papilas coisa de fala sacarinando dançarinando nos lábios aflorados nos entrelábios nos entreflorlábios farfalhando fala farinando fala sim mas agora bashô não buson bashô seishi sob a chuva sonho de sensitivas o tempo todo pensando nessa imagem todo como as dormideiras no seu sono de chuva samidare um outro mês o quinto e contra a chuva a chuveirante chuva de maio hikari teu escudo de luz templo de ouro onde aquela dona onde aquela fala hikari dô a luz curva como lâmina de ouro o ouro curvo como lâmina de luz palio paládio contra as chuvas de maio e o trem correndo o trem disparado num tubo de...

POEMA: E começo aqui...(galáxias) e análise

E COMEÇO AQUI... (GALÁXIAS) e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que importa não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo escrever mil páginas escrever milumapáginas para acabar com a escritura para começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura por isso recomeço por isso arremeço por isso teço escrever sobre escrever é o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites milumapáginas ou uma página em uma noite que é o mesmo noites e páginas mesmam ensimesmam onde o fim é o comêço onde escrever sobre o escrever é não escrever sobre não escrever e por isso começo descomeço pelo descomêço desconheço e me teço um livro onde tudo seja fortuito e forçoso um livro onde tudo seja não esteja seja um umbigodomundolivro um umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o livro o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o começo e v...

BIOGRAFIA HAROLDO DE CAMPOS

Haroldo Eurico Browne de Campos nasceu em 19 de agosto de 1929, e formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo. Lançou seu primeiro livro, O auto do possesso, em 1950; Dois anos depois, formou o grupo Noigandres com seu irmão Augusto de Campos e Décio Pignatari, também estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Noigandres, palavra mencionada no décimo dos Cantos do poeta norte-americano Ezra Pound, sem nenhum significado, criada apenas com a intenção de experimentação na linguagem poética. Como criador do movimento que deu origem ao Concretismo em nível internacional, o grupo Noigandres expôs sua produção poética no Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1956 e no Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, em 1957. A primeira coletânea de sua obra poética, Xadrez de estrelas – Percurso textual (1949- 1974), publicada em 1976, contém sua produção inicial e concreta, além de uma amostra significativa de Galáxias, obra em prosa poética, editada em ...

POEMA: Poema sujo e análise

POEMA SUJO (1975) turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro mais que escuro: claro como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma e tudo (ou quase) um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas azul era o gato azul era o galo azul o cavalo azul teu cu tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma entrada para eu não sabia tu não sabias fazer girar a vida com seu montão de estrelas e oceano entrando-nos em ti bela bela mais que bela mas como era o nome dela? Não era Helena nem Vera nem Nara nem Gabriela nem Tereza nem Maria Seu nome seu nome era... Perdeu-se na carne fria perdeu-se na confusão de tanta noite e tanto dia perdeu-se na profusão das coisas acon...

POEMA: João boa-morte, cabra marcado para morrer e análise

JOÃO BOA-MORTE, CABRA MARCADO PARA MORRER Vou contar para vocês um caso que sucedeu na Paraíba do Norte com um homem que se chamava Pedro João Boa-Morte, lavrador de Chapadinha: talvez tenha morte boa porque vida ele não tinha. Sucedeu na Paraíba mas é uma história banal em todo aquele Nordeste. Podia ser em Sergipe, Pernambuco ou Maranhão, que todo cabra da peste ali se chama João Boa-Morte, vida não. Morava João nas terras de um coronel muito rico. Tinha mulher e seis filhos, um cão que chamava “Chico”, um facão de cortar mato, um chapéu e um tico-tico. Trabalhava noite e dia nas terras do fazendeiro. Mal dormia, mal comia, mal recebia dinheiro; se recebia não dava pra acender o candeeiro. João não sabia como fugir desse cativeiro. Olhava pras seis crianças de olhos cavados de fome, já consumindo a infância na dura faina da roça. Sentia um nó na garganta. Quando uma delas almoça, as outras não; a que janta, no outro dia não almoça. Olhava para ...