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Mostrando postagens de dezembro, 2017

POEMA: Hieróglifo para Mário Shemberg e análise

HIERÓGLIFO PARA MÁRIO SHEMBERG (CRISANTEMPO: NO ESPAÇO CURVO NASCE UM...; A EDUCAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS) o olhar transfinito do mário nos ensina a ponderar melhor a indecifrada equação cósmica cinzazul semicerrando verdes esse olhar nos incita a tomar o sereno pulso das coisas a auscultar o ritmo micro - macrológico da matéria a aceitar o spavento della materia (ungaretti) onde kant viu a cintilante lei das estrelas projetar-se no céu interno da ética na estante de mário física e poesia coexistem como asas de um pássaro - espaço curvo - colhidas pela têmpera absoluta de volpi seu marxismo zen é dialético e dialógico e deixa ver que a sabedoria pode ser tocável como uma planta que cresce das raízes e deita folhas e viça e logo se resolve numa flor de lôtus de onde - só visível quando damos conta - um bodisatva nos dirige seu olhar transfinito Haroldo de Campos ANÁLISE “Hieróglifo”, uma coisa escrita de forma enigmática, simbólica, misteriosa, ...

POEMA: Circuladô de fulô e análise

CIRCULADÔ DE FULÔ (GALÁXIAS) circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá soando como um shamisen e feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para outros não existia aquela música não podia porque não podia popular aquela música se não canta não é popular se não afina não tintina não tarantina e no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria física e doendo doendo como um prego na palma da mão um ferrugem prego cego na palma espalma da mão coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro prego cego durando na palma polpa da mão ao sol … [circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá] … o povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro da maravilha no visgo do impr...

POEMA: Sasamegoto (galáxias) e análise

SASAMEGOTO (GALÁXIAS) sasamegoto a fala daquela dona coisa de fala mascada ou molhada marulho ou murmulho cicio ou sussúrrio balbúcie ou borbulha ou mussitar ou musselina e sasamegoto sachet mascado na língua whispering aquela dona companheira de carruagem diria buson ou bashô buson enquanto a primavera haru same ya chove palavras maceradas como goma de mascar resina e açúcar nas papilas coisa de fala sacarinando dançarinando nos lábios aflorados nos entrelábios nos entreflorlábios farfalhando fala farinando fala sim mas agora bashô não buson bashô seishi sob a chuva sonho de sensitivas o tempo todo pensando nessa imagem todo como as dormideiras no seu sono de chuva samidare um outro mês o quinto e contra a chuva a chuveirante chuva de maio hikari teu escudo de luz templo de ouro onde aquela dona onde aquela fala hikari dô a luz curva como lâmina de ouro o ouro curvo como lâmina de luz palio paládio contra as chuvas de maio e o trem correndo o trem disparado num tubo de...

POEMA: E começo aqui...(galáxias) e análise

E COMEÇO AQUI... (GALÁXIAS) e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que importa não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo escrever mil páginas escrever milumapáginas para acabar com a escritura para começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura por isso recomeço por isso arremeço por isso teço escrever sobre escrever é o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites milumapáginas ou uma página em uma noite que é o mesmo noites e páginas mesmam ensimesmam onde o fim é o comêço onde escrever sobre o escrever é não escrever sobre não escrever e por isso começo descomeço pelo descomêço desconheço e me teço um livro onde tudo seja fortuito e forçoso um livro onde tudo seja não esteja seja um umbigodomundolivro um umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o livro o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o começo e v...

BIOGRAFIA HAROLDO DE CAMPOS

Haroldo Eurico Browne de Campos nasceu em 19 de agosto de 1929, e formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo. Lançou seu primeiro livro, O auto do possesso, em 1950; Dois anos depois, formou o grupo Noigandres com seu irmão Augusto de Campos e Décio Pignatari, também estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Noigandres, palavra mencionada no décimo dos Cantos do poeta norte-americano Ezra Pound, sem nenhum significado, criada apenas com a intenção de experimentação na linguagem poética. Como criador do movimento que deu origem ao Concretismo em nível internacional, o grupo Noigandres expôs sua produção poética no Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1956 e no Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, em 1957. A primeira coletânea de sua obra poética, Xadrez de estrelas – Percurso textual (1949- 1974), publicada em 1976, contém sua produção inicial e concreta, além de uma amostra significativa de Galáxias, obra em prosa poética, editada em ...

POEMA: Poema sujo e análise

POEMA SUJO (1975) turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro mais que escuro: claro como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma e tudo (ou quase) um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas azul era o gato azul era o galo azul o cavalo azul teu cu tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma entrada para eu não sabia tu não sabias fazer girar a vida com seu montão de estrelas e oceano entrando-nos em ti bela bela mais que bela mas como era o nome dela? Não era Helena nem Vera nem Nara nem Gabriela nem Tereza nem Maria Seu nome seu nome era... Perdeu-se na carne fria perdeu-se na confusão de tanta noite e tanto dia perdeu-se na profusão das coisas acon...

POEMA: João boa-morte, cabra marcado para morrer e análise

JOÃO BOA-MORTE, CABRA MARCADO PARA MORRER Vou contar para vocês um caso que sucedeu na Paraíba do Norte com um homem que se chamava Pedro João Boa-Morte, lavrador de Chapadinha: talvez tenha morte boa porque vida ele não tinha. Sucedeu na Paraíba mas é uma história banal em todo aquele Nordeste. Podia ser em Sergipe, Pernambuco ou Maranhão, que todo cabra da peste ali se chama João Boa-Morte, vida não. Morava João nas terras de um coronel muito rico. Tinha mulher e seis filhos, um cão que chamava “Chico”, um facão de cortar mato, um chapéu e um tico-tico. Trabalhava noite e dia nas terras do fazendeiro. Mal dormia, mal comia, mal recebia dinheiro; se recebia não dava pra acender o candeeiro. João não sabia como fugir desse cativeiro. Olhava pras seis crianças de olhos cavados de fome, já consumindo a infância na dura faina da roça. Sentia um nó na garganta. Quando uma delas almoça, as outras não; a que janta, no outro dia não almoça. Olhava para ...

POEMA: As peras e análise

AS PERAS As peras, no prato, apodrecem. O relógio, sobre elas, mede a sua morte? Paremos o pêndulo. Deteríamos, assim, a morte das frutas? Oh as peras cansaram-se de suas formas e de sua doçura! As peras, concluídas, gastam-se no fulgor de estarem prontas para nada. O relógio não mede. Trabalha no vazio: sua voz desliza fora dos corpos. Tudo é o cansaço de si. As peras se consomem no seu doirado sossego. As flores, no canteiro diário, ardem, ardem, em vermelhos e azuis. Tudo desliza e está só. O dia comum, dia de todos, é a distância entre as coisas. Mas o dia do gato, o felino e sem palavras dia do gato que passa entre os móveis é passar. Não entre os móveis. Passar como eu passo: entre nada. O dia das peras é o seu apodrecimento. É tranquilo o dia das peras? Elas não gritam, como o galo. Gritar para quê? Se o canto é apenas um arco efêmero fora do coração? Era preciso que o canto não cessasse nunca. Não pelo canto (canto que os homens ouvem) Mas porq...

POEMA: Mar azul e Análise

MAR AZUL mar azul mar azul      marco azul mar azul      marco azul      barco azul mar azul      marco azul      barco azul      arco azul mar azul      marco azul      barco azul      arco azul      ar azul Ferreira Gullar ANÁLISE Linearidade, ondulação e sonoridade. Um poema menos tenso, menos subjetivo, projetado na linguagem lírica do mar, como um produto do universo. O poema “Mar Azul” modifica a ideia do concretismo excessivamente formal e subjetivo das palavras em seu aspecto semântico, através de um poema visual que procurava a objetividade da palavra em seu significado real, natural, lírico, romântico e melodioso. Lirismo e melodia que transmitem a vida, o passado e as lembranças do autor em sua cidade natal, São Luis do Maranhão.

BIOGRAFIA FERREIRA GULLAR

Poeta, dramaturgo, tradutor e crítico de artes plásticas, Ferreira Gullar, pseudônimo de José de Ribamar Ferreira, membro da Academia Brasileira de Letras desde 2014, indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 2002, ganhador do Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras em 2005, agraciado em 2010 com o Prêmio Luís de Camões, o mais importante prêmio literário da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Ferreira Gullar faleceu aos 86 anos em 4 de dezembro de 2016. Seu último livro, lançado em 2016, foi “Autobiografia Poética e Outros Textos”. Seu primeiro livro, Um pouco acima do chão (1949), marcado por suas leituras de poemas clássicos e parnasianos durante a adolescência, levou o poeta Gullar a excluí-lo de sua bibliografia posteriormente. Em 1950 vence com o poema "O galo" um concurso promovido pelo Jornal de Letras, tendo o poeta Manuel Bandeira como um dos membros do Júri. Conheceu em 1951 o crítico de arte Mário Pedrosa e o escritor Osw...

BIOGRAFIA CECÍLIA MEIRELES

Cecília Benevides de Carvalho Meireles, foi uma grande poetisa nascida no Rio de Janeiro, em 07.11.1901, e posteriormente faleceu no mesmo local em 09.11.1964. Desde muito jovem a poetisa perdera os pais, então foi criada pela avó, Jacinta Garcia Benevides, Cecília amava muito sua avó, tanto que quando esta faleceu, Cecília lhe dedicou um poema belíssimo chamado “Elegia”, onde ela retrata todo o sofrimento de perda que estava sentindo. Desde jovem, Cecília era extremamente atraída pelos estudos, por aprender novas línguas e por escrever poesia, se formou e logo em seguida ingressou no magistério. Em 1919 lançou o livro “Espectros”, que deu início a carreira que futuramente ela consolidaria. Cecília se casa com um artista português chamado, Fernando Correia Dias, e com ele tem três filhas. Após a publicação de “Nunca mais e...”, seu marido passa a ilustrar seus livros. No começo de 1934 ela passa a dirigir um centro infantil e cria a primeira biblioteca infantil do rio de janeiro. ...